martes, 28 de octubre de 2008

eu- você - eu - você - eu - você - eu - você - eu - você

Há a caixa com furos
(que também sou eu)
músculos ligamentos ossos carne
e o dentro da caixa
o cansaço de agora
a vontade de dizer
uma indolência sem hora
e o eterno amanhecer
ora
há essa caixa móvel
que me leva aos trabalho ao bar ao supermercado ao posto de gasolina
e toda a intra estrutura
(que teimo em pensar que essa sou a única eu e me engano, bem sei)
você não deu a ela
você mentiu
você amou
você concordou e não queria
você mentiu que não queria
você faz
você pára e escreve
toda a estrutura de uma tese
que não sei e julgo saber
ser essa a minha verdade
como se houvesse a verdade
a linha que definisse
uma pessoa
que intuo ser agora mais livre
a explosão dos acontecimentos de um dia, por exemplo
de um dia de sol ou de chuva
de um dia que pesa nos ombros
qualquer circunstância
está
sempre
a pessoa
enquanto viva
e vive
sempre
a pessoa
ainda que mortaa as idéias por instantes
os amores por anos
as vontades por segundos
as alegrias
ainda que julgando não principie
sempre principia
ao escovar as costas no banho
ao ferver um pacote de massa
ao procurar a conta da luz
a jogar todas as roupas no chão para depois dobrá-las
esta
a pessoa
que penso ser eu dentro da caixa
o corpo
que quando chamada, atendo
pelo meu nome
de dentro da caixa
e digo, sim, esse corpinho responde por mim
e é pelos furos dele
que vejo
como
sorvo
falo
escuto
expulso
atraio
mas é sempre um confundido no outro esses dois inventos de mim
um confuso no outro
um que contradiz o outro
e sou otimista
de dizer aqui
que seriam apenas dois
melhor dizer assim
embora não sejam as verdades
e seja apenas uma
as verdades
elas vêm
não é de competência
dizê-las

lunes, 27 de octubre de 2008

L´amour, c´est tout

Conta-me ela que deixa os cabelos crescerem para que acompanhem o desarrollar dos pensamentos, e os quero-queros em velocidade gritam, no verde da espuma, a espuma que bate na areia sem piedade. Conheci-a há poucos dias, lia Fica comigo esta noite, mostrou que é de uma autora portuguesa, Inês Pedrosa. Sentamos na praia, na toalha colorida, e começou a me dizer do conto Todo o amor, e de como o título lhe havia deixado parada, estremecida, com cheiro de gente. Sei do que me fala, a Pietra, mas prefiro que ela diga, e prossiga, são tantas as variáveis, e estende as pernas, os pés, ali chega uma onda.
-Escurece, diz ela, e compreendo, mesmo iluminadas que estamos pelo sol, é uma tarde quente, até poderíamos entrar na água.
Mas Pietra não quer voltar para casa e sim desmembrar o ouriço morto que tem nas mãos. E então vai, e cada vaga vem, quando nos chega, de longe, vejo pelas feições do rosto, pelo branco da pele, chega o moço, deita ao lado dela e, bem, à vontade, quer ouvi-la tocar o violão. E como se fosse possível, estamos num quarto azul, ela sentada com o violão, tirando os primeiros acordes, e ele, apoiado num travesseiro, apenas ali. Ele tem as costas nuas e jovens e macias, é suave sua presença, e tudo lhe parece familiar. Levanta, pega o cinzeiro, acende um cigarro, volta à posição agora mais próxima de Pietra, que canta algo de oiseaux, os cabelos dela mais curtos do que ultimamente, seu rosto de um rosa tênue, pulsa o sangue nela, que agora comigo sentada na praia baixa a cabeça ao falar, aquele era o meu vestido, o lilás, aquela era a minha casa, e pintamos de azul o quarto, e a janelinha, de branco, eu tocava para ele até amanhecer.
-Escurece, insiste Pietra, - abraça as pernas dobradas, pergunta ao mar: escurece?
Vem outra onda, o céu passa ao alaranjado mais próximo do fim da tarde, mas ainda não, ainda a tarde não finda, ainda somos, eu e Pietra, na praia.
Nessa tarde de lágrimas, desenhamos na areia, meus cabelos tocam minhas mãos, especialmente uma mecha mais longa e mais clara, que deixei, talvez por esquecimento.
-A história não termina, Pietra avisa, enquanto levantamos e espanamos a toalha no vento. E disso eu também sei. Que as histórias são um instante, e depois outro, e nunca, nunca, alguém sabe, de verdade, quem contou. Nesse caso, se ela ou eu.

sábado, 25 de octubre de 2008

viernes, 24 de octubre de 2008

jueves, 23 de octubre de 2008

viernes, 17 de octubre de 2008

eleição


Porque é muito tarde, elijo não ouvir a música, e porque é muito tarde, justo ela é a música que me martela a cabeça. A árvore dos pensamentos espalha ramas onde lhe vai o tropismo. Onde há espaço. Umidade. Ou uma água parada de chuva que, de tão incessante, cava na terra um nicho e ali faz rio. Aprendi que as plantas exóticas atrapalham a vida das nativas. Interrompem a vida destas, pra falar a verdade. Mas exótico, só a palavra, tem ímã. Então segue o vivente, pondo-se sobre os ombros. A qualquer custo, permanece o vivente. E dá-lhe inventar um acaso, três margaridas espichando no jardim da casa, suco de pêssego, filme na madrugada, cartas, lixa de unha, pontas triplas de cabelo, outra coberta pra cama, desta vez, a xadrez de azul. A pessoa precisa da árvore, cada árvore libera x de oxigênio, é proibido cortar as árvores, te levam preso, escreva um livro, faça um filho, plante uma árvore, cuidado com o que desejas, podes obtenerlo, dois de copas, comunicação, viagem por água, macacos nos galhos, sótãos faxinados, temporal e céu aberto, tudo, porque é tarde é porque é cedo, porque escolho não ouvir aquela música é aquela música que escolho como um martelo, depois o formão, taí. Ôrra, meu.

domingo, 12 de octubre de 2008

ferreira

Hoje encontrei o Ferreira na Folha de São Paulo. Tinha eu ido até o jardim, pra pegar o jornal enrolado no plástico, quando vi as três margaridas crescendo no pé da árvore. Ali sentei, ali abri a Folha. Dizia: Busca Inútil. Ferreira Gullar viveu em Buenos Aires na década de 70, clandestino na ditadura militar, passeou entre os plátanos, conheceu muitos recantos e esquinas de Caballito. Há cerca de um, dois meses, soube que ele esteve na capital buenairense para falar. Naqueles meses, vinha eu relendo, mais uma vez, aliás ouvindo o CD do Poema Sujo e transcrevendo-o num bloco. Muitas noites avancei e retrocedi no player, buscando naquelas palavras, encontrando aquelas palavras, suando naquelas palavras, e na voz dele. Que a escrita, e mais, o clamor de Ferreira Gullar é de toda a vida. Assisti ele uma vez, na Festa Literária de Paraty, homem simples que, embora fale e relate, parece ser de poucas palavras. Eis que na Folha, sentada no gramado, e o sol aquecia um pouco a tarde, reconheço no relato dele alguns passos meus. Eu era criança quando estourou a ditadura. Vivi em Buenos Aires, caminhei por Caballito, sonhei morar em Caballito, um bairro cheio de plátanos, dos quais muitas folhas eu guardei. Na memória. A tarde foi caindo, o vento atrapalhou as folhas do jornal, recortei o artigo de Ferreira. "Voais comigo por continentes e mares e rastejais comigo pelos túneis das noites clandestinas."

viernes, 10 de octubre de 2008

timbalada marina lima

http://www.youtube.com/watch?v=nGotfQ2lglg&feature=related

entre os dedos

encontrei entre os dedos
a força da grande escapada
que outros chamam de pulo do gato
a folha verde que vejo amarela as 04 e 25 da manhã
desta quinta-feira frente-mar
um pacote de amendoins
under pressure com mercury
e a voz de marina no rio
a ver como sei sair e entrar

entre os dedos