domingo, 12 de octubre de 2008

ferreira

Hoje encontrei o Ferreira na Folha de São Paulo. Tinha eu ido até o jardim, pra pegar o jornal enrolado no plástico, quando vi as três margaridas crescendo no pé da árvore. Ali sentei, ali abri a Folha. Dizia: Busca Inútil. Ferreira Gullar viveu em Buenos Aires na década de 70, clandestino na ditadura militar, passeou entre os plátanos, conheceu muitos recantos e esquinas de Caballito. Há cerca de um, dois meses, soube que ele esteve na capital buenairense para falar. Naqueles meses, vinha eu relendo, mais uma vez, aliás ouvindo o CD do Poema Sujo e transcrevendo-o num bloco. Muitas noites avancei e retrocedi no player, buscando naquelas palavras, encontrando aquelas palavras, suando naquelas palavras, e na voz dele. Que a escrita, e mais, o clamor de Ferreira Gullar é de toda a vida. Assisti ele uma vez, na Festa Literária de Paraty, homem simples que, embora fale e relate, parece ser de poucas palavras. Eis que na Folha, sentada no gramado, e o sol aquecia um pouco a tarde, reconheço no relato dele alguns passos meus. Eu era criança quando estourou a ditadura. Vivi em Buenos Aires, caminhei por Caballito, sonhei morar em Caballito, um bairro cheio de plátanos, dos quais muitas folhas eu guardei. Na memória. A tarde foi caindo, o vento atrapalhou as folhas do jornal, recortei o artigo de Ferreira. "Voais comigo por continentes e mares e rastejais comigo pelos túneis das noites clandestinas."

No hay comentarios: