jueves, 15 de enero de 2009

patropi


"Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade

E quem há de negar que esta lhe é superior

E deixa os portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua!"
Fala, mangueira!Fala!
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas

Vamos na velô da dicção tchu tchu de Carmen Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E, xeque-mate, explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem

Adoro nomes
Nomes em Ã
De coisas como Rã e Ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier
Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé e Maria da Fé e Arrigo Barnabé
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó

O que quer
O que pode esta língua?

Incrível
É melhor fazer um canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Se você tem uma idéia incrível
É melhor fazer um canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Blitz quer dizer corísco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo
Meu medo!

A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria: tenho mátria
E quero frátria

Poesia concreta prosa caótica
Ótica futura
Samba -rap, chic-left com banana

Será que ela está no Pão de Açúcar?

Tá craude, brô, você e tu lhe amo

Qué queu te faço, nego?
Bote ligeiro!

Nós canto-falamos como quem inveja negros que sofrem horrores no gueto do Harlem

Livros, discos, vídeos à mancheia

E deixe que digam, que pensem, que falem!"

Caetano Veloso in Língua

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