jueves, 29 de enero de 2009

martes, 27 de enero de 2009

sábado, 24 de enero de 2009

jueves, 22 de enero de 2009

cântico para enriquecer tua alma

a tua ausência é o rio divisor
que não passa em minha cidade
que não admoesta os vizinhos com as cheias e as vazantes
é o delta que existe lá no egito
e não tem vertente aqui
por isso, caro amor,o cântico se transforma em palavra mole que todo mundo diz
e não chega aos teus ouvidos
mas deixe que o rio do egito respingue no rosto teu
e que as águas murmurem para lá dos montes altos
e o cântico saia disfarçado
em música de rádio nos automóveis
é esta a ausência
que é tua, até ela
pois que nada há de meu num curso forte e desorientado que atravessa o egito

groenlândia

E repousou no teu corpo essas manchas de amores perdidos, amores traídos, amores congratulados e amores inventados e mornos, amores que queimam ao arder, amores que dão frio, amores de sempre, amores de iniciados, amores escuros, amores maduros e frouxos, amores enganados, ah, os primeiros amores - dessas manchas teu corpo ficou marcado, qual mapa geográfico. Depois, podia ver: aqui, a Ásia; mais abaixo, a África; e, num salto pra oeste e norte, a Groenlândia. Das zonas erógenas de teu corpo, contaste este segredo: qualquer coisa – dedo, língua, boca, braço, dente, fio de cabelo – te dava tesão bem ali, na Groenlândia, tesão de arrepiar o couro. E se ela soubesse a capital da Groenlândia diria que é justo no ponto que mais te dá de alucinar, na capital dessa misteriosa ilha. E deu de querer descobrir o nome da cidade do teu prazer, pegou o atlas geográfico do segundo grau e encontrou: a Groenlândia, capital Nuuk, é a maior ilha do mundo.

ela/ele

Ele vem seguro
E vencendo estrada e muro chega onde em sonho ela mora.
Inda tonto do que houvera, a cabeça em maresia,
Ergue a mão, encontra a hera
E vê que ele mesmo era
A princesa que dormia.

Fernando Pessoa in Eros e psique

martes, 20 de enero de 2009

brutafêmea


20 01 09 17h51min


Há flores de cores concentradas

Ondas queimam rochas com seu sal

Vibrações do sol no pó da estrada

Muita coisa, quase nada

Cataclismas, carnaval

Há muitos planetas habitados


E o vazio da imensidão do céu

Bem e mal e boca e mel

E essa voz que Deus me deu

Mas nada é igual a ela e eu



Caetano Veloso in Ela e eu

lunes, 19 de enero de 2009

domingo, 18 de enero de 2009

jueves, 15 de enero de 2009

patropi


"Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade

E quem há de negar que esta lhe é superior

E deixa os portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua!"
Fala, mangueira!Fala!
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas

Vamos na velô da dicção tchu tchu de Carmen Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E, xeque-mate, explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem

Adoro nomes
Nomes em Ã
De coisas como Rã e Ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier
Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé e Maria da Fé e Arrigo Barnabé
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó

O que quer
O que pode esta língua?

Incrível
É melhor fazer um canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Se você tem uma idéia incrível
É melhor fazer um canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Blitz quer dizer corísco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo
Meu medo!

A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria: tenho mátria
E quero frátria

Poesia concreta prosa caótica
Ótica futura
Samba -rap, chic-left com banana

Será que ela está no Pão de Açúcar?

Tá craude, brô, você e tu lhe amo

Qué queu te faço, nego?
Bote ligeiro!

Nós canto-falamos como quem inveja negros que sofrem horrores no gueto do Harlem

Livros, discos, vídeos à mancheia

E deixe que digam, que pensem, que falem!"

Caetano Veloso in Língua

miércoles, 14 de enero de 2009

Estrangeira

Página 7

"Começamos a cruzar o mar. Sem barco ou pés de pato, sem snork, mas com vontade. Deixamos a praia para trás batendo pés usando uma bóia com cara de sapinho: um sapo-bóia. Há uma ilha à nossa frente. Não que isso signifique qualquer coisa. Queremos ir mar adentro, sentimos a diferença de temperatura, aproximando-nos da rebentação. Falamos do que comemos no café da manhã, da noite anterior, quando estivemos escrevendo um poema a quatro mãos.
Vejo uma superfície marrom, que passa por mim. Vejo, mas não discuto. É marrom, é vulto, tem peso, mas assim na água pouco se enxerga o tamanho da massa esta. Não dá um segundo, e você salta: o que é aquilo? não tenho a menor idéia, e você se assusta, e então intuo que devo me assustar, afinal, será um cação?
É claro que imaginamos uma baleia. Uma baleia e sua rabanada mortal em nossas cabeças, vidas tiradas assim num passeio simples pela costa catarinense. Imagino eu, imagina você, corremos perigo, damos meia volta, nadamos, pegamos jacaré em direção à margem.
Uma baleia, quando vem, é de manso. Só na hora em que ergue o corpo de dentro d'água é que tudo se revolve. Multiplicam-se as espumas, cria ondas desorientadas, e então o mal, aparentemente, aparece.
O mal e seu volume que tomba inúmeras vezes afugenta, adia, evade, transpira.
O mal, esse risco que divide o-que-fazemos de no-que-realmente-isso-vai-dar.
O risco de giz que uma galinha não desobedece, julgando estar presa.
Ah, o mal. Vocábulo curto, três letras apenas.

Corremos pra casa, pro banho, pras toalhas.

Pessoalmente, nunca vi uma baleia."

martes, 13 de enero de 2009

Estrangeira

Página 6

"Chegamos no Brasil, onde eu amarro a minha rede. Com bolachas maria, suflê de frango, beterrabas, arroz, farinha, entro em casa, abro a mala, visto o robe, subo a escada, acendo um cigarro. E as luzes do terraço. O resto é alisar a cama, trocar a música de fundo, escorrer os cabelos, lavar os olhos, apagar o azul das unhas, encompridar a noite, esperar o dia, abrindo a janela para o vento.
Volto ao Brasil, já quantas vezes. Às fotografias, aos cadernos, aos automóveis, aos shopping centers. Às noites de conversa, às noites sem sono, às noites chapadas no vidro da sala."

viernes, 9 de enero de 2009

Estrangeira

Página 5

"Marlene Jobert nació en Argelia en 1940, fué actriz famosa con Brigitte Bardot, estrenó en el cine cuando nacía yo, 1963. Encuentro sus datos en la web después de una larga caminada por la playa mansa, pensando, mientras tanto: mejor andar que no andar.
Hoy estaban las aguas-vivas en la arena, enormes, y los leones marinos, más vivos que las aguas, by the way.
Mucha gente por todos lados, pieles y huesos y muslos y ojos y bocas y narizes y pelos y sombreros, esa masa de todo lo que se llama humanidad en porciones ordenadas anda a saber con que criterio, poco importa.
Me llené de la arena que traía el viento fuerte, volví al hotel para bañarme.
Cuantos granos de arena revolviendo en el cerebro, que calidad de gente soy yo?"

Hoje, P trabalhou disciplinadamente nas pedras. Separou as que mais reluziam, as que mais polidas se viam. Colheu muitas nos bolsos, andou devagar. Ser é o mesmo que amar.

jueves, 8 de enero de 2009

Estrangeira

Página 4

"El cine Libertador presenta Mamma Mia! y me acerco por eso sin darme cuenta que ya son las diez y la función empieza a las 9 y media. Cuando entro doy con un cyber en un salón, ya me fué la pelicula, tengo un retrato de Marlene Jobert en frente, en la pared. Hay viento hoy y mucho, hace volar mis pelos largos, me taparan la cara mientras buscaba en una librería lectura de promoción.
Un harpista tocaba y esperaba monedas.
Mi real interés por la literatura de lengua española empezó creo que hace unos diez años.
Yo tenía, entonces, 35. De mi en esa edad me acuerdo que usaba lentes gruesas, que las de contacto ya me habian hecho mierda a los ojos, que todavía vivia en la calle Getulio Vargas, que tenía una perra llamada Elis Regina. Que teñía el pelo de rubio o hacía luces, no sé bien, que en mi cuarto había una terraza y que, algunas veces, armábamos una mesa para comer ahí, mirando las luces de la municipalidad de Porto Alegre.
Yo era casada en esa epoca, a mi me gustaba preparar budines a los fines de semana, tambien asaba unos panecitos de queso y los vendía en el Brique.
Y los vendía bastante!
Creo que empezé leyendo algo de García Marquez y una novela que se llamaba La caja de pandora.
Después, Los cuadernos de Don Rigoberto. Y luego, se levantó la marea y zambullí.
(Luego, no. Un rato más tarde.)

Ahora paso por esos titulos y autores como si fueran míos, o de toda una educación, o que nací con ellos bajo el brazo, o que miro un título y me viene un espejo donde se refleja una sola imágen y siempre la misma: un rostro.

A mí me encantaba bañarle a Elis Regina, esperar que se durmiera cantando para ella en la cocina, gritarle mucho cuando se ponía completamente loca a saltar por los sillones y correr por todas las piezas del departamento. (Bueno, yo tambien me sentía mal cuando le gritaba a Elis.)

Yo tenía 18 años cuando nos dejó Elis, a maior cantora do Brasil. Me acuerdo de estar en el auto, bajando para comprar helado. Justo cuando paraba el motor, escuché en la radio que ella, a los 36 años, se había muerto tras una parada cardíaca.

Puede ser que, en una de mis búsquedas por buena lectura en castellano, de pronto haya sentido que se me paraba el corazón. Puede ser."

Estrangeira

Página 3

"La playa, los autos, la gente, la vereda, las tiendas, las ropas, los juguetes, los niños, los periodicos, la rubia, el helado, las papas fritas, el morocho, el calor, la arena, las ojotas, rosa montero, la fiesta, la ensalada, el perro, el jardín, los recuerdos, mis pies volando hacia los chicos que subían en el árbol, cuidense, no se caigan.
La medialuna, manteca y dulce, el jugo de naranja y la leche con chocolate, los huespedes, yo de gorra, biquíni y vestido leo el pais, una narrativa de un hombre a quien le destruyeran el departamento y todo lo que llamaba de mundo en el oriente medio.
El contrabajista, la noche explotando de turistas, un navio trae mas gente, las banderas de uruguay, argentina y brasil sirven de pañales o pañuelos o manteles.
Un cigarrillo en frente al hotel, la pareja que camina y discute, el tango del restaurant al lado, una mujer canta en italiano, los sillones de veludo rojo, la porción de pascualina, dos ciruelas, una barra de chocolate, la duda que no tiene cabida en una persona sola, las certidumbres que no tienen cabida en níngun lado.
Yo en el parador, fuerte como el sol, hago de turista pese los pensamientos que se repiten una y otra vez."

P ganha um marcador que diz algo como: segue trabalhando para conquistar teus objetivos.

lunes, 5 de enero de 2009

Estrangeira

Página 2

"Desfaço e faço a mala. Tua vida é brihante, dizem as unhas azuis e o cantor. Serão nove horas planando no vagão, o trem vai, corta os campos até a costa do Uruguay. Mais uma rodada. Documento, tíquete, borrrachinha de cabelo, pulseira da Plaza Serrano, tênis de Florianópolis, e o anel.Contou o Amyr Klink que, até casar, não tinha casa. Dormia no chão. Eu, bem... não exatamente. Durmo numa cama com estampas do Pequeno Príncipe. E aquele planeta em que ele regava a flor. Era uma rosa?"

Este livro é ruim, pensa P.

domingo, 4 de enero de 2009

Estrangeira

Página 1

"Caminhando hoje na Nilo Peçanha, o sol deu um tiro bem no minha testa. Bem nos cornos dela, como um dia escreveu o meu avô. Eu ouvia o Camelo no mp3, e como era outra a rua, a calçada, o céu, a praça, tudo tão distinto de Buenos Aires. Outro pó no asfalto, outra a cor do asfalto, dos táxis, e a preguiça dos motoristas. Caminhava rápido, tentando alcançar a velocidade dos que caminham em Buenos Aires, mas em Porto Alegre, fora os maratonistas, todos pareciam caminhar bem mais lento do que eu. É, estrangeira, com risos adentro, formigas adentro, corpo mole de noites assustadas, e um tambor como um trueno no lugar do coração.

É quatro de janeiro, dois mil e nove, o posto de gasolina está na mesma esquina redonda, é engraçado que aqui existam esquinas redondas. Meu casaco é turquesa, assim como minhas unhas. Conheci Emily Remler, quero aprender com ela.

É, estrangeira, aí que viste pela primeira vez tua fotografia, um corpo só, movendo-se.

E vá lá, nas excursões pelas noites clandestinas."

P deixou este livro na mesa ao lado da cama. Dos outros dois empilhados, leu uma que outra frase. Guardou. P se assusta com a noite que vem.